Tudo o que você sempre quis saber sobre os (polêmicos) smartphones dobráveis

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© Google

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Os smartphones dobráveis, ou “foldables”, são atualmente maior aposta entre os fabricantes. De janeiro deste ano para cá parece que todo mundo já apresentou, ou está trabalhando, em um aparelho com esta tecnologia. O apelo para os consumidores parece claro: quem não gostaria um smartphone que subitamente vira um tablet?

Mas você sabe de onde vieram e quando foram criadas as tecnologias que tornaram os aparelhos dobráveis possíveis? Quais fabricantes já anunciaram produtos nesta categoria, e quais as principais diferenças entre eles? E mais, será que este conceito tem futuro ou será mais uma “moda” passageira como os Netbooks e tablets Android? Continue lendo para saber tudo sobre os foldables.

Um longo caminho

Os modernos painéis OLED flexíveis usados nos “foldables” são fruto da combinação de uma série de pesquisas e descobertas, que remontam à década de 60. 

Olhe para o teclado do seu computador. Está vendo a “luzinha” verde que indica que a tecla Caps Lock está ativa? Ela é um LED (Light Emitting Diode, Diodo Emissor de Luz), um tipo de componente eletrônico que quando submetido a corrente elétrica produz luz. Ao contrário de uma lâmpada incandescente os LEDs são compactos, não tem um filamento nem geram calor, o que os tornam ideais para uma enorme variedade de aplicações.

Os primeiros LEDs capazes de produzir luz visível, na cor amarela, foram criados em 1962 por Nick Holonyak Jr., um engenheiro da General Electric. Com o tempo, LEDs vermelhos e verdes se tornaram populares como indicadores e componentes de displays alfanuméricos em equipamentos eletrônicos.

Mas ainda faltava uma coisa: LEDs azuis, que foram desenvolvidos pelo inventor japonês Shuji Nakamura, funcionário da Nichia Corporation, em 1993.

Com as três cores primárias disponíveis, foi uma questão de pouco tempo até que fossem combinadas em um único componente, o LED branco, anunciado também pela Nichia em 1996.

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Sem os LEDs azuis, não teríamos telas OLED em nossos aparelhos / © Gussisaurio, CC-BY-SA 3.0

Enquanto isso, outros cientistas trabalhavam na miniaturização da tecnologia, o que aconteceu com a descoberta dos OLEDS (Organic Light Emitting Diode). Com esta tecnologia, a luz é produzida por um fino “filme” de material orgânico colocado entre dois condutores. Os primeiros dispositivos práticos foram criados por Ching W. Tang e Steven Van Slyke, engenheiros da Kodak (sim, a dos filmes fotográficos) em 1987.

A partir daí, a evolução foi rápida. Métodos de fabricação foram sendo aperfeiçoados, a eficiência (e luminosidade) dos painéis foi aumentando, e em 2001 a Sanyo já demonstrava, durante a CEATEC Japan 2001, painéis de 2,2 polegadas para celulares, capazes de produzir 260.000 cores. No mesmo evento a Sony atraiu multidões com um painel de 13 polegadas com resolução de 800x600 pixels e 1,4 mm de espessura, desenvolvido para uso em TVs e monitores.

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A Sony XEL-1 foi a primeira TV OLED no mercado, em 2007 / © Steve Liao, CC-BY-SA 2.0

Os OLEDs flexíveis surgiram com a mudança no substrato usado na produção dos painéis. Em vez de vidro, os fabricantes passaram a usar plástico. Durante a CES de 2009 vi pessoalmente no stand da Sony uma demonstração de um pequeno painel de 2,5”, com resolução de 160 x 120 pixels, preso a duas hastes que o flexionavam constantemente. 

Em 2013, a Samsung apresentou uma linha de painéis OLED flexíveis que chamou de YOUM. Durante a apresentação foi mostrado um protótipo de um aparelho, do tamanho de um smartphone, cuja tela se curvava em direção às laterais. Parece familiar? Sim, foi o nascimento da tela com “bordas curvas” que chegou ao mercado com o Galaxy Note Edge, em 2014, e mais tarde migrou para a linha Galaxy S. 

Mas embora flexíveis, estes painéis eram aplicados sobre uma superfície rígida, para proteção. Painéis realmente dobráveis exigem muito mais durabilidade, pois serão flexionados inúmeras vezes ao longo de sua vida útil. Foram necessários mais seis anos para que a tecnologia se tornasse madura o bastante para que os primeiros produtos dobráveis chegassem ao mercado.

O que já está no mercado

Royole Flex Pai

O primeiro smartphone dobrável foi apresentado pela então desconhecida Royole Corporation durante a CES 2019 em Las Vegas, nos EUA. Batizado de Royole Flex Pai, o aparelho tem uma tela de 7,8” com resolução de 1920 x  1440 pixels que se dobra ao meio, resultando em algo que quando fechado parece um smartphone com telas tanto na frente quanto atrás.

  • Royole Flex Pai: o primeiro smartphone dobrável surpreende?

Embora o aspecto dobrável seja impressionante, o produto como um todo não foi bem recebido. Em parte por problemas no hardware, como uma dobradiça rígida demais que dava a sensação de que ia quebrar ou o grande espaço entre as telas quando fechado, mas também por problemas de software, como lentidão na transição entre o modo “dobrado” e “aberto”.

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Royole Flex Pai, o primeiro smartphone dobrável / © NextPit

Ainda assim é possível comprar um Flex Pai no site da Royole por módicos US$ 1.588 pelo modelo com 128 GB de memória interna. O aparelho roda o sistema operacional Android, e é baseado no processador Qualcomm Snapdragon 855.

Galaxy Fold

O segundo dobrável anunciado foi o Galaxy Fold, da Samsung, apresentado em fevereiro deste ano junto com a família Galaxy S10. Em contraste com o Flex Pai, que tem a tela na parte externa do aparelho, o Galaxy Fold tem a tela de 7,3” (com resolução de 1536 x 2152 pixels) na parte interna e se abre como um livro. Na parte externa há uma segunda tela, de 4,6”, que permite o uso do aparelho quando fechado.

As impressões iniciais da imprensa sobre o Galaxy Fold foram boas, com vários jornalistas elogiando a qualidade do hardware e os novos modos de uso possíveis graças à tela dobrável. Mas subitamente a maré virou quando as telas de vários aparelhos começaram a falhar. Como resultado, a Samsung recolheu todos os aparelhos que estavam nas mãos da imprensa e adiou o lançamento do produto em todo o mundo.

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Galaxy Fold: problemas com a tela adiaram o lançamento / © Samsung

A Samsung ainda não anunciou uma nova data de lançamento para o Galaxy Fold. Quando chegar ao mercado, o aparelho custará US$ 1.980 nos EUA. 

Huawei Mate X

A Huawei apresentou seu primeiro dobrável, o Mate X, durante o Mobile World Congress 2019 em Barcelona. Com preço sugerido de US$ 2.500, o aparelho também usa uma tela externa, desta vez com 8 polegadas e resolução de 2480 x 2200 pixels. Quando fechado ele vira um smartphone com duas telas, uma frontal de 6,6 polegadas e uma traseira de 6,4 polegadas. 

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O Huawei Mate X tem design mais elegante que o Galaxy Fold / © NextPit

O design é mais elegante que o do Galaxy Fold. Quando fechado ele é mais fino, a tela é maior tanto aberta quanto fechada e um único conjunto de três câmeras serve tanto como câmera traseira como câmera para Selfies, dependendo do modo como você segura o aparelho. 

O Mate X tem uma bateria de 4.500 mAh com carga rápida, capaz de ir do 0 a 85% em apenas 30 minutos, e é compatível com redes 5G. A Huawei ainda não definiu uma data de lançamento.

Oppo

Pouco se sabe sobre o produto da Oppo, que foi apresentado através das redes sociais da empresa também durante o Mobile World Congress 2019. O aparelho tem um design muito semelhante ao produto da Huawei, com uma tela externa e uma “barra” traseira, na margem direita da tela, que abriga câmeras e sensores.

Não quero lançar um produto de US$ 2.000. Brian Shen, vice-presidente da Oppo.

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O dobrável da Oppo ainda é cercado de mistério / © OPPO, Brian Shen

A Oppo não divulgou mais detalhes técnicos, preço, data de lançamento nem mesmo o nome do produto. Ou seja, por enquanto parece que ela queria apenas “marcar presença” entre os anúncios feitos durante o MWC. Brian Shen, vice presidente da empresa, diz que prefere “esperar” para ver como os concorrentes se saem no mercado, e que “não pretende lançar um aparelho de US$ 2.000”. Vamos esperar para ver.  

Xiaomi

Outro produto envolto em mistério. O que se sabe é que ele tem um design único, com uma tela externa e duas dobras verticais, demonstrado em vídeos publicados por executivos nas redes sociais da empresa. A expectativa é que chegue ao mercado em meados deste ano, e rumores sugerem que ele custará “cerca de US$ 999”, metade do preço de um Galaxy Fold. Se for verdade, será um feito e tanto.

Motorola

Pode colocar este na categoria de “produtos tão vazados que estão quase confirmados”. Dan Dery, Vice Presidente Global de Produtos da Motorola, confirmou em fevereiro em uma entrevista ao Engadget que a empresa trabalha na tecnologia. E desde então muitos outros detalhes surgiram, graças a informantes com conexões na indústria.

O aparelho, que por enquanto é conhecido extra-oficialmente como “RAZR 2019”, seria uma reedição do design do Motorola RAZR V3, lançado em 2004 e um dos aparelhos mais bem sucedidos na história da Motorola.

Em vez de um “smartphone que vira tablet”, parece que a idéia da Motorola é usar uma tela wide com dobra horizontal, o que permitiria um aparelho com tela grande de 6,2” que se dobra ao meio e ocupa muito menos espaço no bolso quando fechado.

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Um conceito de como seria o RAZR 2019 / © Weibo

O aparelho seria baseado em um processador Qualcomm Snapdragon 710 (um intermediário), com 6 ou 4 GB de RAM e 128 ou 64 GB de memória interna. Não há uma data de lançamento definida, mas estima-se que o produto chegue às lojas custando cerca de US$ 1.500.

Google

Mario Queiroz, Vice-Presidente da Gerência de Produtos do Google, confirmou em entrevista à CNET que a empresa está pesquisando os dispositivos dobráveis. "Certamente estamos prototipando esta tecnologia. E estamos fazendo isso já há algum tempo. Mas não acredito que haja um cenário claro de uso", disse ele.

Mas segundo Queiroz, a empresa espera que haja algo mais além do que uma “tela grande em aparelho pequeno” para motivar os consumidores.

"Acho que é preciso ser mais inovador do que isso. O cenário de uso tem que ser algo que faça você dizer 'Ei, eu realmente preciso ter isto'. Atualmente você não precisa de um dobrável, é mais algo que 'é legal ter'".

Vale lembrar que a próxima versão do Android, a “Q”, terá suporte oficial à dispositivos dobráveis. Com isso, muito mais fabricantes devem se aventurar neste segmento do mercado.

O que o futuro reserva?

Certamente o hardware dos foldables irá evoluir muito rapidamente. Espero ver já na segunda geração (que deve chegar no início do ano que vem) produtos muito mais finos, mais leves, mais robustos e com melhor autonomia de bateria. Entendo o apelo de um “smartphone que vira tablet” (compacto no bolso, grande na hora de assistir filmes e jogar), mas concordo com Mario Queiroz, do Google: é preciso algo além disso para estimular o consumidor. 

E me preocupo com o software. Ao contrário da Apple, o mercado de tablets Android é praticamente inexistente: fora a Samsung nos topo de linha, o restante é uma imensidão de produtos de baixíssima qualidade brigando pelo menor preço.

Software otimizado para telas grandes será crucial para o sucesso dos foldables

Por isso são poucos os desenvolvedores que realmente otimizam seus apps para trabalhar em telas grandes, algo que é crucial para os foldables no formato imaginado pela Royole, Samsung, Huawei ou Xiaomi. A Motorola, com seu conceito de “smartphone que se dobra ao meio”, parece ser a menos afetada por este problema. Talvez seja este o caminho no curto prazo.

O fato é que não vejo uma explosão de criatividade como esta entre os fabricantes desde que o iPhone chegou ao mercado em 2007. Já era hora, o mercado de smartphones estava ficando um tanto maçante.

E você, o que espera dos dobráveis? Compartilhe sua opinião nos comentários.

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3 Comentários
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Todas as mudanças foram salvas. Não há rascunhos salvos no seu aparelho.
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  • 20
    Igor 08/05/2019 Link para o comentário

    Eu acho mais interessante a ideia do rarz (o smartphone que diminui de tamanho) do que o galaxy fold (o oposto). Esperar pelos modelos e pela queda nos preços (acredito que vai demorar).

    Conta desativadaRafael RiguesHeitor Gomes


    • Rafael Rigues 20
      Rafael Rigues 10/05/2019 Link para o comentário

      Eu também acho, Igor. Prefiro algo menor no bolso do que com o mesmo tamanho que temos hoje. Mas vamos ver se continuo com a mesma opinião depois de experimentar um Fold ou similar ;)


  • 73
    Jairo rios 08/05/2019 Link para o comentário

    Diria que o mercado atual.de smartphones é mais do mesmo e com os.precos subindo muito.

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